No dia 12 de junho de 2025, a internet experimentou uma queda global, uma das maiores interrupções dos últimos anos. Dois dos maiores pilares da infraestrutura digital, Google Cloud e Cloudflare enfrentaram problemas críticos que derrubaram sites, serviços e plataformas utilizados por milhões de pessoas e empresas no mundo inteiro. O incidente começou às 17h51 (UTC) e durou algumas horas, afetando de forma direta a operação de sistemas essenciais, inclusive o acesso a e-mails, painéis administrativos, serviços de autenticação e monitoramento.
Neste artigo, a Dolutech analisa tecnicamente o que ocorreu, os impactos sentidos na cadeia digital e as lições de resiliência que devem ser aprendidas por profissionais de TI e segurança cibernética.
O que aconteceu?
A origem: falha no Google Cloud IAM
A falha teve origem em um problema no IAM (Identity and Access Management) do Google Cloud, responsável por autenticação e controle de acesso a recursos na nuvem. Um erro interno relacionado a uma atualização automática de cotas resultou em falhas críticas no processo de autenticação e no fornecimento de tokens de acesso a serviços como:
- Google Cloud Console
- Cloud Storage
- Vertex AI
- BigQuery
- Cloud Workstations
- APIs de autenticação
Como consequência, vários serviços do Google como Gmail, Meet, Drive e Workspace também foram afetados em cascata. O impacto foi sentido tanto por usuários individuais quanto por corporações inteiras que dependem desses serviços para operar diariamente.
Efeito cascata: Cloudflare também foi afetada
Embora a falha tenha começado no Google Cloud, o impacto estendeu-se à Cloudflare, especialmente em seus serviços Workers KV e Zero Trust. Esses serviços dependem parcialmente da infraestrutura do Google, o que desencadeou problemas de performance e interrupções intermitentes.
A Cloudflare declarou que serviços como:
- Stream
- Workers AI
- WARP
- Painel Administrativo
também foram impactados durante o período de instabilidade.
Serviços impactados globalmente
A interrupção foi relatada por diversas plataformas e usuários em tempo real por meio do Downdetector, abrangendo:
- Spotify
- Discord
- Twitch
- Snapchat
- GitHub
- Character.AI
- Replit
- Serviços Android com autenticação Google
Empresas que dependem diretamente da infraestrutura do Google Cloud e da Cloudflare enfrentaram interrupções totais ou degradação severa de serviços.
Linha do tempo do incidente
- 17h51 UTC – Início da falha no IAM do Google Cloud.
- 19h41 UTC – Equipes de engenharia implementam medidas de mitigação, incluindo failover.
- 21h UTC – Serviços principais começam a se recuperar.
- 22h30 UTC – A maior parte da infraestrutura global volta ao normal.
Lições de ciber-resiliência
1. IAM como ponto crítico de falha
Problemas no IAM afetam diretamente toda a camada de autenticação e segurança da nuvem. Isso demonstra que mesmo soluções robustas podem conter single points of failure e exigem planos de contingência adequados.
2. Importância da arquitetura multi-cloud
A dependência total de um único provedor expõe aplicações a interrupções imprevisíveis. Ambientes multi-cloud ou híbridos podem ser cruciais para garantir continuidade operacional durante falhas sistêmicas.
3. Visibilidade e monitoramento contínuo
Ferramentas como Wazuh, Prometheus, Grafana e Datadog são essenciais para detectar anomalias antes que se tornem incidentes críticos. O monitoramento ativo de APIs e fluxos de autenticação é uma recomendação para qualquer ambiente em nuvem.
4. Segmentação e redundância de acesso
Mecanismos como cache de autenticação local, rotas alternativas e sincronização de credenciais devem estar presentes em infraestruturas críticas, principalmente em ambientes com alta disponibilidade.
Impactos financeiros e de imagem
- O mercado reagiu de forma negativa: ações da Alphabet (controladora do Google) e da Cloudflare tiveram quedas imediatas, reflexo da perda de confiança dos investidores em relação à resiliência das plataformas.
- Empresas dependentes enfrentaram perdas de produtividade, cancelamentos de vendas e impacto direto em reputações.
Para plataformas como Spotify, Discord e serviços bancários, minutos de inatividade equivalem a prejuízos relevantes.
O que os profissionais de segurança devem fazer?
A Dolutech recomenda:
- Auditar dependências em nuvem: identifique quais serviços críticos dependem do Google Cloud ou Cloudflare e tenha rotas alternativas preparadas.
- Implantar autenticação local emergencial: ferramentas como HashiCorp Vault podem ajudar em ambientes com tokens e certificados locais.
- Criar planos de continuidade de negócios (BCP): simulações de falhas em IAM e APIs devem fazer parte dos testes regulares de recuperação de desastres.
- Acompanhar alertas de segurança e status: monitore canais oficiais como:
- Educar equipes de atendimento e clientes: treine para lidar com falhas sem pânico, comunicando claramente o que ocorre e os passos para mitigação.
Conclusão
O incidente do dia 12 de junho mostrou que nenhuma infraestrutura é à prova de falhas. Mesmo empresas como Google e Cloudflare estão suscetíveis a interrupções inesperadas. A diferença está na preparação, resposta e resiliência dos sistemas que utilizam tais infraestruturas.
Para a Dolutech, este episódio reforça a importância da diversificação de recursos, estratégias de failover e monitoramento em tempo real. A internet moderna é poderosa, mas frágil. E profissionais conscientes fazem toda a diferença na redução de riscos cibernéticos.
Amante por tecnologia Especialista em Cibersegurança e Big Data, Formado em Administração de Infraestrutura de Redes, Pós-Graduado em Ciências de Dados e Big Data Analytics e Machine Learning, Com MBA em Segurança da Informação, Escritor do livro ” Cibersegurança: Protegendo a sua Reputação Digital”.